Para a produção de vinho é necessário a utilização de uva. O tipo de uva usado irá definir a classificação do vinho: fino ou de mesa. Para ser considerado um vinho fino, a uva precisa pertencer à espécie Vitis Vinifera. Caso seja elaborado com uvas da espécie Vitis Labrusca, será categorizado com vinho de mesa.
Escrito por Paula Daidone - Sommelière e especialista em marketing.
Saiba a diferença entre vinho fino e de mesa
Diferença entre Vitis Vinifera e Vitis Labrusca
A espécie Vitis Vinifera surgiu na Europa, mais precisamente no Mediterrâneo. Por isso também é chamada de uva européia. Há registros de mais de cinco mil variedades dessa espécie reconhecidas e registradas pela OIV – Organização Internacional da Vinha e Vinho. Para que um vinho seja rotulado com o vinho fino precisa necessariamente ser elaborado com uma uva vinífera que seja reconhecida pela OIV.
As uvas dessa espécie têm a casta mais grossa, bagos e sementes pequenas e uma ampla gama de sabores e aromas. Possuem características mais complexas e maior equilíbrio entre acidez e açúcar. São mais delicadas e por isso demandam maior cuidado no cultivo. Merlot, Cabernet Sauvignon, Tannat, Chardonnay, Riesling são alguns exemplos de variedades Vitis Vinifera.
A Vitis Labrusca é originária dos Estados Unidos, por isso também recebe a nomenclatura de uva americana. São utilizadas para a produção de suco e consumo in natura e no Brasil, onde são amplamente cultivadas, servem como matéria-prima para a produção de vinho de mesa. As uvas comuns representam mais de 80% da produção brasileira de uvas. Existem cerca de 40 cultivares entre labruscas e híbridas e as principais são Isabel, Bordô, Concord, Niágara branca e Niágara rosada.
Conheça os tipos de uva mais tradicionais para a produção de vinho
A uva de mesa tem a casca fina, semente grande, polpa desprendida da casca, aroma e sabor típico e acentuado, maior teor de açúcar, menor acidez e pouca características complexas. São menos exigentes no cultivo, mais tolerantes às doenças e possuem mais resistência a clima frio, úmido e chuvoso.
Normalmente, as uvas de mesa são cultivadas em latada. Um sistema de condução em que as videiras são sustentadas horizontalmente sobre um pergolado com cerca de dois metros de altura do chão. Esse sistema proporciona o desenvolvimento de videiras vigorosas e alto rendimento.
A latada era muito utilizada por possibilitar o cultivo de outras variedades no solo abaixo do pergolado. Como a estrutura era alta, o solo ficava livre para receber plantações de legumes, verduras e outras frutas. Era um sistema de maior rentabilidade para o viticultor.
Já as videiras de uvas finas são conduzidas pelo sistema de espaldeira, em que as uvas são dispostas verticalmente em fileiras e conduzidas por fios, parecendo uma cerca. A espaldeira facilita a poda e desfolha da videira, a mecanização do vinhedo e o rendimento é mais equilibrado e controlado.
Esse é o sistema mais moderno e mundialmente difundido para o cultivo de viníferas e que está sendo adotado por produtores de uvas de mesa e híbridas, pois gera frutos com maior qualidade e o custo de implantação é menor que o do sistema latada.
Categorização das uvas viníferas e labrusca
Além da diferenciação de espécies Vitis Vinifera e Vitis Labrusca, as variedades de uva são categorizadas genealogicamente em quatro categorias: cruzamentos, híbridas, mutações e clones.
Cruzamento
A maioria das uvas para vinho cultivadas em todo o mundo são cruzamentos, o que significa que duas variedades de uma mesma espécie (Vinifera ou Labrusca) foram 'cruzadas' para criar uma variedade inteiramente nova. Isso acontece quando a flor de uma planta é fertilizada com o pólen de outra e pode acontecer naturalmente ou por atividade humana forçada.
Um exemplo popular de variedade cruzada é a Cabernet Sauvignon, que é o cruzamento da Cabernet Franc e Sauvignon Blanc. Mais recentemente, o cruzamento por intervenção humana criou a Marselan, entre Cabernet Sauvignon e a Grenache, em 1961.
Conheça mais sobre a uva Marselan
Uvas híbridas:
As variedades híbridas são produzidas através do mesmo processo. No entanto, ao contrário dos cruzamentos, as uvas híbridas são o resultado do cruzamento de duas espécies diferentes: uma variedade de Vitis Vinifera com uma variedade de Vitis Labrusca.
Embora frequentemente desprezadas no passado, as híbridas estão se tornando cada vez mais populares em todo o mundo, pois têm alta tolerância a doenças e também são mais resistentes às mudanças climáticas. No Brasil, alguns exemplos de variedades híbridas incluem Moscato Embrapa, BRS Lorena e Seyval.
Mutação:
Mutações somáticas são variações que ocorreram no DNA de tecidos vegetativos (não reprodutivos) da planta. As mutações afetam a cor, tamanho ou forma de cacho e bago. Normalmente, essa mutação ocorre de forma espontânea quando uma variedade reage às mudanças em seu ambiente para se proteger de intempéries climáticas, pragas ou outros perigos.
Dois exemplos populares de mutações em uvas são Pinot Gris e Pinot Blanc, que são mutações de Pinot Noir. Uma uva tinta que deu origem a duas castas brancas. Uma variedade de uva é oficialmente definida como uma mutação quando algumas de suas características genéticas não são mais idênticas às da videira-mãe.
Clones:
Os clones são reproduções de uma mesma videira. Geneticamente, essas plantas são idênticas, pois compartilham a mesma videira-mãe, mas possuem características únicas. Ao contrário das mutações, que têm uma composição genética totalmente diferente da de seus pais.
É comum que as variedades tenham diversos clones, tal como a Chardonnay que possui 31 clones certificados na França, numerados de 75 a 132. Cada clone tem uma característica específica. Os clones são criados para dar origem a frutos de melhor qualidade ou para aumentar a resistência contra doenças. Funcionam como ferramenta para os viticultores, que podem optar por cultivar um clone que apresente características específicas de acordo com o produto que deseja elaborar.
Agora que você já sabe a diferença entre uvas vinífera e labrusca e suas categorizações, leia sobre o ciclo vegetativo das videiras para complementar seu estudo.