Comprometida com a minimização dos impactos ambientais causados por sua cadeia produtiva, a Família Salton acaba de divulgar os resultados de uma iniciativa inédita no setor vitivinícola. Elaborado em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS), o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) identificou o impacto ambiental da vinícola, mapeando as melhores práticas e preparando a companhia para reduzir suas emissões. Os parâmetros utilizados nessa iniciativa são reconhecidos internacionalmente e, até então, não há registros de outros dados nacionais do setor nessa metodologia.
As emissões foram medidas nas quatro unidades da Salton - em Bento Gonçalves/RS, Santana do Livramento/RS, São Paulo/SP e Jarinu/SP. “O inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE’s) é considerado o primeiro passo para que uma instituição possa contribuir no combate às mudanças climáticas, já que é realizado todo diagnóstico das emissões atmosféricas”, explica a professora Vânia Elisabete Schneider, que ocupou o cargo de diretora do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS (ISAM-UCS) durante a pesquisa.
O inventário contempla três escopos: emissões e remoções diretas de GEE (1), emissões indiretas de GEE pelo consumo de energia (2) e outras emissões e remoções indiretas de GEE (3). "O projeto foi dividido em duas etapas, sendo a primeira envolvendo o escopo 1 e 2. E a segunda fase contemplando o escopo 3 e estratégias para reduzir e mitigar as emissões já mapeadas. Entretanto, diante das observações realizadas por conta deste estudo, diversas iniciativas já estão acontecendo. Como, por exemplo, preservação de corredores biológicos, investimentos em energias alternativas e até mesmo substituições de empilhadeiras convencionais por equipamentos elétricos. Estamos em curso com algumas movimentações muito relevantes para nosso processo", explica Maurício Salton, diretor-presidente da companhia.
No inventário de GEE 2020 da Salton, a vinícola contabilizou 950,54 toneladas de CO²e emitidas, contra 15.786,91 de toneladas removidas. O mapeamento dos escopos 1 e 2, portanto, resultou positivamente em 14.836,38 de toneladas de CO²e removidas no período. Foram considerados, nesse primeiro inventário da Salton, emissões de atividades agrícolas, processos industriais, gerações de resíduos e compra de energia elétrica. “Além de abrir caminhos mais sustentáveis para toda a cadeia vitivinícola, a pesquisa faz parte do nosso compromisso de nos tornarmos uma companhia referência no tema sustentabilidade, jornada esta iniciada com diversos projetos, alguns há mais de 10 anos” completa o diretor-presidente.
Viticultura sustentável reduz uso de defensivos agrícolas na Campanha Gaúcha
Considerado um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de fauna e flora, o Bioma Pampa também tem sido foco de ações sustentáveis da Salton. Em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a vinícola vem utilizando um estudo de mapeamento ambiental da instituição para desenvolver técnicas sustentáveis, visando a harmonia entre seus vinhedos, na Azienda Domenico (Campanha Gaúcha), com o bioma natural.
No Rio Grande do Sul, das 607 espécies da flora ameaçadas de extinção, estima-se que 250 estão presentes nessa área. Encontrar alternativas para minimizar o impacto das atividades agrícolas, portanto, é de extrema relevância para o meio ambiente e também para o setor vitivinícola, visto que a Campanha Gaúcha é a atualmente a segunda maior região produtora de uvas do Brasil – ficando atrás apenas da Serra Gaúcha. A Indicação de Procedência (IP) da região da Campanha abrange 14 municípios, totalizando uma área de 44 mil km2, sendo que a área de vinhedos com variedades viníferas totaliza 1.560 hectares, segundo a Embrapa Uva e Vinho.
"A manutenção das espécies vegetais do Bioma Pampa pode contribuir na proteção da superfície do solo, por exemplo, diminuindo a erosão hídrica, o que também diminui o potencial de contaminação de águas. Além disso, as espécies colaboram na ciclagem de nutrientes, que podem contribuir positivamente na nutrição da videira e produtividade de uvas. Colaboram também na manutenção e até incremento do conteúdo de carbono em solos, o que é desejado", destaca o professor Gustavo Brunetto, engenheiro agrônomo e Doutor em Ciência do Solo, vinculado à UFSM.
Estudos de base da universidade apontam que, diferente do cultivo de grãos e da pecuária extensiva (que são as atividades mais comuns na região), a viticultura é a que menos gera impacto ambiental no Bioma Pampa. A atividade mantém o equilíbrio natural do Bioma Pampa, fazendo com que os vinhedos se tornem sumidouros de carbono, ou seja, absorvem CO2 da atmosfera e contribuem diretamente para preservação da fauna e flora local, evitando impactos no efeito estufa. A Salton, inclusive, já identificou quais são os corredores biológicos dos seus vinhedos. Eles estão sendo preservados dentro das suas propriedades e acabam servindo como um refúgio da flora e da fauna.
Pesquisas da Salton e da UFSM mostram ainda que os insetos da região seguem com abrigo garantido, se tornando combatentes naturais de pragas agrícolas. O uso de defensivos, consequentemente, se torna menos necessário, fechando assim o ciclo que, embasado no conhecimento científico, garante o desenvolvimento da viticultura sustentável como atividade econômica na região, ao mesmo tempo em que protege a biodiversidade local. "Conseguimos diminuir em 99% a aplicação de herbicidas nos vinhedos produtivos da Azienda Domenico, pois o ciclo do Azevém (um tipo de gramínea) coincide com o ciclo vegetativo da videira, suprimindo o desenvolvimento das plantas daninhas", exemplifica o engenheiro agrônomo Maurício Copat. Ainda de acordo com o engenheiro, a utilização de inseticidas há anos deixou de ocorrer de maneira preventiva, passando a ser utilizada de modo pontual. “Desta forma, monitoramos o vinhedo e agimos cirurgicamente, quando estritamente necessário, para coibir um ponto específico de ataque à videira. Assim, não prejudicamos o equilíbrio natural”, detalha.
Ainda em parceria com a UFSM, a Salton desenvolveu outra iniciativa importante para a viticultura da Campanha Gaúcha recentemente. No ano passado, o resultado de uma pesquisa também inédita – que durou quase dez anos – foi entregue e compartilhada com diversos produtores de uva da região.
A cartilha "Amostragem e recomendação de adubação para vinhedos da Campanha Gaúcha" se tornou o primeiro guia oficial desta temática e teve como base um estudo conduzido por professores, pesquisadores e estudantes da UFSM ligados ao Departamento de Solos e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo. Estes experimentos sobre adubação de solo provavelmente estão entre os de maior duração em território brasileiro, além de serem os primeiros dedicados à região da Campanha Gaúcha. Na prática, o estudo trouxe ganhos relevantes em eficiência no uso de recursos, produtividade e qualidade, agregando melhores práticas de manejo do vinhedo e correções em processos que tornam o movimento mais sustentável.