Sempre é um prazer especial abrir uma nova garrafa de vinho, não é? Você vai até sua adega ou prateleira, escolhe aquela garrafa que estava ali aguardando o momento dela e abre, para a diversão geral. Assim como a garrafa, hoje vamos falar sobre uma outra forma de armazenamento dos vinhos: os barris de carvalho.
A tradição no armazenamento dos vinhos
Nos dias de hoje, a garrafa é a referência, a encontramos por todo lado, com todos os vinhos, mas nos esquecemos que esse é o principal recipiente para transporte e armazenamento do vinho há apenas uns poucos séculos, três ou quatro, para ser um pouco mais exato.
Sempre ali, prática e ao nosso alcance, a garrafa de 750ml é o recipiente natural e eficiente para transportar e armazenar o vinho, intimamente ligado a história e a tradição do vinho, não é? Ou seja, ao longo de mais de 9.500 anos o vinho foi armazenado, transportado e consumido a partir de outros recipientes, que não a garrafa de vidro hoje dominante.
Essa lembrança é fundamental quando nos deparamos com novos envases, hoje em dia mais práticos e adaptados às necessidades modernas, como o bag-in-box ou as latas de alumínio, que usualmente enfrentam algum preconceito por parte de consumidores que alegam não estarem essas embalagens de acordo com as tradições.
Mas é justamente o rompimento de tradições longamente estabelecidas o que nos proporciona evolução, novos caminhos e alternativas. Fosse o respeito pela tradição absoluto, ainda teríamos nossos vinhos em pesadas e desajeitadas ânforas de terracota, ou em bolsas de couro, provavelmente os recipientes mais antigos e “tradicionais” para o transporte e consumo do vinho.
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A história dos barris de carvalho
Essa evolução constante é que leva a soluções mais práticas e, vez por outra, inesperadas, acabam por ser incorporadas nos hábitos e culturas da produção e consumo do vinho em todo o mundo. Um dos exemplos mais claros, sem sobra de dúvida, é justamente a madeira, nos dias de hoje quase que indissociável da produção de vinhos pelo mundo.
Nem sempre foi assim. Por milênios, o couro e as ânforas foram os meios preferenciais para transporte e armazenamento do vinho, porém havia algumas dificuldades práticas em seu transporte, que começaram a ficar mais marcadas com o crescimento do comércio durante o Império Romano.
É justamente nesse período que os barris de carvalho surgem como uma opção viável para o transporte de vinhos. As vantagens eram várias: os barris de carvalho eram mais leves e resistentes que as ânforas, permitiam armazenar volumes maiores. Os barris de carvalho também possuem um formato que facilita o transporte, durante o embarque e desembarque. Após utilizados a limpeza é relativamente fácil, e caso sejam danificados, a reparação é mais simples.
A influência da madeira nos barris de carvalho
Com o passar do tempo, passou-se a observar que a passagem do vinho pelos barris de carvalho beneficiava a bebida de outras formas, resultando em vinhos mais macios, elegantes, estáveis e longevos.
A interação do vinho com a madeira tem, principalmente, dois efeitos: o primeiro diz respeito em como a madeira aporta diretamente ao vinho e o segundo que a madeira permite que o vinho faça uma troca com o ambiente. E nesses dois aspectos, terá influência decisiva a origem dessa madeira, bem como seu tempo de uso, ou seja, se é madeira nova.
Um primeiro esclarecimento necessário é que, nos dias de hoje, quando falamos em madeira no vinho falamos quase que invariavelmente de carvalho. Há também o uso de castanheiro, cerejeira e outras madeiras, mas na grande maioria das vezes, a madeira será de carvalho.
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A madeira atrelada à qualidade dos vinhos
O contato direto do vinho com a madeira permite que parte das substâncias aromáticas presentes no carvalho passem para o vinho, conferindo aos mesmo aqueles aromas aos quais nos referimos genericamente como “amadeirados”. Na verdade, notas de especiarias, como baunilha, canela, cravo, ou tostados como coco, cocada, torrada.
Estes aromas podem ser mais ou menos intensos, de acordo com o carvalho utilizado. Usualmente, os barris de carvalho americanos aportam aromas mais intensos que os barris de carvalho franceses, por conta da forma como a madeira é serrada e devido a tosta interna das barricas, em geral mais intensa.
Esse processo de tosta que faz parte da fabricação dos barris de carvalho, sendo necessário para curvar a madeira, é outro ponto que impacta nos aromas, como você deve imaginar; quanto mais intensa a tosta, mais intenso os aromas... tostados!
Curiosidades dos barris de carvalho
Qual é o tempo de uso dos barris de carvalho?
Outro ponto crucial é o tempo de uso dos barris de carvalho. O aporte mais intenso de aromas ocorre no primeiro uso e diminui substancialmente no segundo. É quase imperceptível no terceiro e a partir do quarto uso, no que se refere ao aporte aromático, o barril vira um recipiente inerte. Então, por qual motivo os barris de carvalho são usados nesse estágio?
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Qual a função dos barris de carvalho?
Bom, aí entra em questão a outra utilidade dos barris de carvalho, a função de permitir que o vinho faça uma troca com o ambiente. Devido a sua porosidade natural, ainda que os barris não vazem, eles não são completamente estanques, e por isso, quantidades microscópicas de oxigênio passam por eles, fazendo com que o vinho passe por um lento e controlado processo oxidativo.
O oxigênio é crucial em uma variedade de reações químicas que ocorrem durante o amadurecimento do vinho, levando a polimerização de taninos e volatilização de aromas, deixando o vinho, por fim, mais expressivo e macio. Além disso, essa oxidação controlada de componentes naturalmente mais sensíveis, confere ao vinho maior estabilidade e longevidade, após engarrafado.
Quais vinhos da Salton passam pelos barris de carvalho?
Por fim, o uso da madeira é mais um elemento a disposição da vinícola na elaboração de vinhos com diferentes perfis, para diferentes momentos.
Uma experiência muito especial é degustar lado a lado essas diferenças, algo que você pode fazer com os vinhos da Família Salton.
Os rótulos são muito didáticos nesse sentido, como os vinhos da Coleção de Adega. O Salton Virtude (branco fermentado e amadurecido em carvalho francês), o Salton Talento (corte tinto elegante com passagem importante por carvalho francês) e o Salton Desejo (Merlot varietal macio e de bom corpo, com madeira marcada pela passagem por carvalhos francês e americano). São vinhos deliciosos e que enriquecem qualquer adega, com certeza, uma oportunidade de estudo e aprendizado ímpar sobre os barris de carvalho!
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